CAATINGA lança carta celebrando 30 anos de vida

por CAATINGA

Há 30 anos, o Brasil vivia em um momento de grandes desafios. Tinha saído há pouco tempo de um longo período de 21 anos de Ditadura Militar e estava no processo de implementação da redemocratização no País. Alto índice de analfabetismo, ausência de políticas públicas em diversas áreas, como agricultura familiar, e inflação altíssima eram alguns dos cenários que caracterizavam o Brasil naquele momento. 

No Semiárido, a população sofria, em especial crianças e idosos, nos ciclos de secas, por conta das pouquíssimas estruturas e pela falta de políticas específicas para a região, em diversos setores, que permitissem produção e vida digna. Aqui no Sertão Araripe, a situação não era diferente, as Frentes de Emergência eram um paliativo que não resolviam o problema. Assim, a migração e os saques às feiras eram alternativas as quais muitas famílias recorriam. 

Neste cenário de profundas dificuldades, os movimentos sociais, sindicais e estudantis ganharam força, pois a organização popular já não era mais reprimida como na época da Ditadura. Assim, esses movimentos que lutavam pela redemocratização no País lutavam fervorosamente por mudanças, para a implementação de políticas que mudassem essa estrutura tão desigual. O trabalho social da Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), apoiavam as iniciativas populares e consolidavam transformações. No território do Araripe, já se tecia uma teia social que protagonizava grandes lutas por direito, e contribuía fortemente em todo o estado de Pernambuco e em toda região semiárida.

Neste contexto, um grupo de militantes, homens e mulheres, contagiados e contagiadas pelo sentimento plantado pela Rede PTA – Projeto de Tecnologias Alternativas, de que a agricultura familiar brasileira precisava ser fortalecida, para que o País voltasse a crescer com inclusão social e produtiva, se instala no território do Araripe, e soma-se ao trabalho já existente, especialmente junto a agricultores e agricultoras trocando saberes e construindo conhecimento que permitam vida digna no Semiárido.

Caminhamos e construímos muita coisa juntos e juntas, o sonho começou a torna-se real. De lá para cá contribuímos diretamente com mudanças reais de vida, colaboramos com a construção de políticas públicas, que passaram a reestruturar o Semiárido; fortalecemos a Agroecologia, que trouxe práticas em benefício da agricultura familiar e de quem nas cidades consome seus alimentos; construímos e fortalecemos a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), e tantas outras redes e articulações; contribuímos para a mudança na perspectiva de se enxergar o Semiárido, como lugar viável e com potencial de vida; mostramos que o problema não é a seca, mas a cerca que concentra água, terra e poder.

No entanto, após esses 30 anos nos deparamos com um cenário semelhante ao de três décadas atrás, onde as perdas de direitos e o fantasma da sede e fome voltam a nos assustar e tentam nos prender, imobilizar e estagnar nosso caminhar. Mas temos em nossa genética a força e esperança plantadas pela Rede PTA, pelas CEBs e esse conjunto de movimentos e organizações sociais que pulsam no Araripe, no Semiárido e no Brasil. A mobilização popular nos provoca mais uma vez a irmos à luta, a não desistir.

Nossa voz precisa ser mais forte para anunciarmos as conquistas e denunciarmos o desmonte que acontece agora no Brasil, como o desemprego, a volta da fome e a volta da sede que nos assombra. Por isso, continuaremos firmes anunciando os sonhos e esperançando vida digna no Semiárido.

E convidamos vocês a somar nessa nossa luta por direitos para todas e para todos! Que venham mais 30 anos de Luta!

SEM SEDE, SEM FOME: CAATINGA HÁ 30 ANOS SEMEANDO VIDA DIGNA NO SEMIÁRIDO

 

#VidaDignaNoSemiárido

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