Mulheres estão sobrecarregadas em casa com pandemia do Coronavírus

Vivemos um momento de pandemia com o Coronavírus. O Brasil já ultrapassou mais de 8 mil mortes pelo Covid-19. No entanto, mulheres e homens sentem o impacto desse momento de forma diferente. Esse foi o mote de nossa conversa com Graciete Santos, coordenadora geral da Casa da Mulher do Nordeste e integrante da coordenação da Articulação Semiárido Pernambucano (ASA/PE). A entrevista abaixo foi ao ar em nosso programa de rádio Agricultura familiar em Debate, no dia 02 de maio. Nela, Graciete reflete sobre os impactos, os sentidos e o significado desse momento, em especial na vida das mulheres, e como isso tem trazido mais uma sobrecarga para a vida delas. 

 

Impactos da pandemia do Coronavírus 

Neste momento de pandemia no Brasil são vários os impactos nos diversos setores e dimensões da vida, na economia, nas relações sociais, nas relações entre homens e mulheres, na natureza. As agricultoras e agricultores familiares que têm seu sustento da roça, nos quintais estão tendo impactos na comercialização, porque a ordem é o isolamento social, as feiras têm diminuído seu fluxo, o medo também da contaminação, inclusive da comercialização no porta a porta nas comunidades. Todos estão sofrendo esse impacto do ponto de vista de sua economia, de sua renda, de sua sobrevivência. 

Desigualdade brasileira escancarada

Uma outra questão, é que com todo esse processo de cortes e diminuição de recursos na área social, com esse governo que esta aí, principalmente as pessoas do campo têm sofrido impactos grandes. Como a redução  de recursos do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], do PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar], entre outras importantes políticas públicas que venham a favorecer  e fortalecer o trabalho da agricultura familiar. Esse momento no Brasil que estamos vivendo mostra as desigualdades sociais. As desigualdades de classe, porque os impactos são diferentes para pobres e para ricos; de gênero, porque o impacto é diferente para mulheres e homens; de raça, porque fica explícito o quanto essas desigualdades raciais afloram e estão ligadas à pobreza, à localização dessas pessoas que estão em sua grande maioria nas periferias, a falta de assistência de saúde. A questão regional também, porque é diferente os impactos para a cidade e para o campo. É preciso entender que essa situação da pandemia vem aguçar e explicitar essas desigualdades. 

Mulheres no contexto de pandemia  

Esse contexto de pandemia tem impactado fortemente e diretamente as mulheres em suas diferentes realidades. Em especial as mulheres pobres, as mulheres negras, as mulheres rurais, as mulheres que estão nas periferias, no trabalho informal, as trabalhadoras domésticas. Porque somos as mais impactadas e somos também as que temos salários menores, as mais pobres. Estamos também em maioria na saúde, são as mulheres enfermeiras que nesse momento estão mais expostas à contaminação do Coronavírus. São elas que estão nos cuidados com as pessoas, são as cuidadoras das pessoas idosas, das crianças, são os trabalhos essenciais. 

Necessidade da divisão do trabalho doméstico 

Vivemos numa cultura patriarcal, onde a violência contra nós mulheres, contra os nossos corpos é legitimada por essa relação de poder dos homens sobre as mulheres. Vivemos uma cultura que nesse momento se acirra. São as mulheres que estão na linha de frente da sociedade e de suas famílias e  isso traz uma sobrecarga de trabalho. Nós temos ouvido vários relatos de mulheres no campo e na cidade o quanto está difícil para elas sustentarem essa situação, de manter suas famílias cuidadas, alimentadas, de manter a limpeza das casas. Muitos dos companheiros das mulheres não querem cumprir essas tarefas, então violam as regras, não dividem as tarefas em casa. E isso tem causado muita tensão nas relações familiares. E isso tudo está sendo vivido nas casas, e a casa nem sempre é um lugar seguro. Nesse momento que estamos todos nesse isolamento social, confinados a esse ambiente, é importante que a gente olhe todos para esse trabalho. Porque o trabalho do cuidado e o trabalho doméstico são essenciais para a vida. E agora que estamos todos juntos, é necessário que a gente valorize, que a gente visibilize esse trabalho, não apenas como ajuda. Que ele seja dividido por todas as pessoas da família. Mas isso ainda não é uma realidade.

Violência contra a mulher cresce em isolamento social

Neste momento de isolamento social, a violência doméstica tem aumentado e tem e acirrado as relações de conflito nas famílias, com os companheiros. Então, que nós mulheres nos mantenhamos conectadas. A gente precisa denunciar, precisa procurar os grupos, as organizações, os movimentos de mulheres, eu sei que o Araripe tem forte o Fórum de Mulheres de Pernambuco, e a gente precisa estar juntas. Não estamos sozinhas. É preciso olhar para essas mulheres, muitas estão adoecendo com essa carga de trabalho. É preciso a dividir essas tarefas em casa, é preciso construir relações justas, iguais, relações de paz, de amorosidade nesse momento tão difícil que estamos vivendo, com tantos medos, com tantas tensões. Que possamos construir relações mais justas e que os governantes possam olhar para esse trabalho e valorizar. 

 

 

 

 

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