Natureza e fé se somam no conhecimento das chuvas no Semiárido

Por Kátia Rejane

Imagem do céu do Sertão do Araripe de Pernambuco no Dia de São José. Céu carregado. Que venha a chuva!.

Historicamente agricultores e agricultoras observam sinais da natureza que orientam as  práticas agrícolas, como o plantio e poda de algumas culturas. Mas os olhares das famílias agricultoras no Semiárido estão aguçados e voltados, principalmente, para os sinas de chuvas. As experiências são diversas e passadas de geração em geração. Em muitas comunidades existem profetas populares das chuvas, que são aquelas pessoas que se dedicam um pouco mais a observação e com o passar do tempo se tornam referências. Mas de maneira geral, agricultores e agricultoras do Semiárido  são profetas e profetizas das chuvas.

E hoje, 19 de março, dia de São José, conhecido como santo das chuvas, é um dos dias do ano que atraem a atenção. Mas outros sinais da natureza e datas comemorativas fazem parte da observação dos povos do Semiárido.  É o caso das plantas da caatinga, que dão sinais de como será o inverno. A  umburana de cheiro, por exemplo, quando tem uma safra boa, com muitas sementes, é sinal de que o ano seguinte terá um bom inverno. Já uma boa produção de  feijão brabo  é sinal de uma boa produção de feijão de corda. No caso do umbuzeiro, se observa para qual lado tem mais frutos, pois do lado que tiver uma carga de frutos maior significa que as chuvas será melhor para aquele lado.

Além das observações durante todo o ano, algumas datas são conhecidas como dias de experiências, como o dia 25 de dezembro e o primeiro de Janeiro, que, segundo agricultores e agricultoras, se ao amanhecer tiver uma barra de nuvens no nascente é sinal que será um ano de chuvas. Quanto maior a barra maior será a quantidade de chuvas. Em outras datas se  espera que de fato chova, pois são conhecidas como dias de grandes possibilidades  de chuvas, e quando não vem chuvas nessas datas é um péssimo sinal. É o caso do dia de Santa Luzia, 13 de dezembro e Dia de Reis, em 06 de janeiro. 

A última data de espera por chuvas no ano é o 19 de março. Muitas famílias agricultoras ainda plantam milho se chover no dia de São José, é o conhecido milho do São João, pois se plantar em março a previsão é que em junho ele esteja no ponto para fazer as comidas típicas das festas juninas. Porém, se no dia do Santo Padroeiro da chuva não chover se perdem as esperanças de chuvas. Como Luiz Gonzaga, Rei do Baião, cantou na música triste partida: “Apela pra março, que é o mês preferido, do santo querido, senhor São José, (Meu Deus, meu Deus), mas nada de chuva, tá tudo sem jeito, lhe foge do peito, o resto da fé.

A agricultora Maria Rosa, da comunidade da Barragem dos Algodões, município de Ouricuri, conta que desde pequena já ouvia sua família esperar chuvas no dia de São José. “ Minha família tinha muita fé, que durante a novena de São José ia chover, e eu cresci com essa fé e tenho até hoje. Naquela época, a gente já plantava confiando nas chuvas do mês de março, e confiando que o inverno ia ser bom. Hoje os tempos mudaram, mas a gente continua com a mesma fé”, conta dona Rosinha, como é conhecida na comunidade com um olhar cheio de esperança e fé.

 

Compartilhe