Retrospectiva 2021: o que semeamos para uma vida digna no Semiárido?

Saiba quais projetos e ações o CAATINGA desenvolveu durante o ano de 2021 e como famílias de toda a região do Sertão do Araripe puderam se beneficiar!

Por Sara Brito

O ano de 2021 foi mais um em que tivemos que enfrentar muitos desafios e dificuldades. Mas se olharmos para trás, podemos ver que o trabalho do CAATINGA continuou firme na busca pelos direitos de todas as pessoas da região do Araripe, especialmente das famílias agricultoras. Com muita resistência, empenho e solidariedade, fizemos a Agroecologia se multiplicar e a convivência com o Semiárido se fortalecer no nosso território. Vamos fazer aqui uma retrospectiva de projetos e ações que fizeram parte desse trabalho!

Demos continuidade ao projeto Algodão em Consórcios Agrocológicos, que, em parceria com a Fundação C&A, resgata o plantio do algodão, que já é tradicional no território, mas não mais em monocultivo, agora associado com outras culturas que contribuem para o desenvolvimento da produção e a saúde do solo, como o feijão, milho e sorgo. Além desse eixo ecológico e do econômico (pois gera renda para as famílias agricultoras a partir da produção e comercialização), o projeto também tem importância social para as famílias agricultoras. “O projeto Algodão em Consórcios Agrocológicos não está somente focado no plantio direto lá no roçado, mas tem toda uma parte de formação com os agricultores e agricultoras no território, com a discussão da participação das mulheres nos espaços de incidência política, e também a participação dos jovens”, diz Allexandre Holanda, coordenador do projeto no CAATINGA.

Com o apoio da Cáritas Alemã e em parceria com o Centro Sabiá, através do projeto Terras de Vidas, instalamos junto às famílias agricultoras, 200 sistemas de Reúso de Águas Cinzas integrado aos Sistemas Agroflorestais. O sistema que chamamos de RAC/SAF tem sido muito bem avaliado pelas famílias agricultoras, como destaca Giovanne Xenofonte, coordenador do projeto. “Esse sistema tem permitido que as famílias tenham acesso a uma água que antes era desperdiçada e contribui muito com o saneamento básico, porque a água não fica mais em torno da casa poluindo o ambiente, ela é reaproveitada, reutilizada, no nosso caso, em sistemas agroflorestais”. Além de produzir alimento para os animais, com as plantas forrageiras produzidas no SAF, esse sistema contribui para a convivência com o Semiárido e o enfrentamento às mudanças climáticas, pois reaproveita o recurso de água, que não é um recurso infinito.

Realizamos ações de educação contextualizada com 1.300 crianças do território, em parceria com ActionAid, no projeto Comunidade e Criança. Levando orientações e discutindo sobre o momento atual de pandemia que estamos vivendo, e sobre a importância dos cuidados que cada um e cada uma deve ter. As crianças também participaram do projeto apoiado pela Diocese de Freiburg, na Alemanha, o projeto Escola de Plantas, desenvolvido pelo CAATINGA junto a cinco escolas rurais no município de Ouricuri. “O projeto realizou oficinas de educação contextualizada junto a educadores e educandos nas escolas, mas também implantou tecnologias sociais de reúso da água, para que essa água possa servir para produção de mudas no viveiro da escola. Essas tecnologias e processos de formação têm como objetivo fortalecer uma educação voltada para o cuidado com o meio ambiente e uma educação contextualizada aqui no território”, diz Irlânia Fernandes, coordenadora do projeto no CAATINGA.

Com Cari, e em parceria com universidades, institutos de pesquisa e organizações brasileiras, iniciamos o projeto Avaclim, com o objetivo central de avaliar e sistematizar experiências agroecológicas em países de quatro continentes, a partir de evidências, dados e informações científicas sobre como a agroecologia realmente garante a segurança alimentar das pessoas do campo e da cidade, promove meios de vida sustentáveis e ajuda a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e ainda contribui para restaurar terras em regiões secas do mundo, assim como o Semiárido brasileiro. “Especialmente nesse momento difícil que estamos vivendo, o projeto apresenta a agroecologia para toda a sociedade e a coloca nessa posição de promover outros meios de vida. Meio de vida que promove as condições básicas e necessárias para uma vida boa agora, mas também preparando o meio ambiente para as futuras gerações”, diz Paulo Pedro de Carvalho, coordenador do projeto no CAATINGA.

Em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB), continuamos com o projeto Venda Certa II, construindo conhecimentos com os agricultores e agricultoras, contribuindo para a melhoria da produção, do beneficiamento, da comercialização, dos empreendimentos produtivos coletivos, como as feiras agroecológicas, e espaços físicos, como o Empório Kaeth. O projeto, que se encerrou agora em dezembro, apoiou também o processo de certificação da EcoAraripe e a melhoria das infraestruturas produtivas dos empreendimentos. Além de contribuir com a comunicação e divulgação dos produtos da agricultura familiar agroecológica, com a produção de programas de rádio veiculado em vários municípios da região do Araripe.

Com o Mulheres Rurais: Produção, beneficiamento e acesso ao PNAE, também apoiado pela FBB, assessoramos 21 grupos de mulheres e implantamos junto com elas tecnologias sociais, como o reúso de água em seus quintais produtivos para o fortalecimento da sua produção de alimentos e realizamos oficinas de beneficiamento. Além da implantação de 21 tecnologias de dessanilizador solar, que utiliza a energia solar, limpa e renovável, para a retirada dos sais dissolvidos na água e eliminação de microrganismos patógenos.

Ainda em parceria com FBB, participamos agora, como última ação do ano, da campanha solidária Brasileiros pelo Brasil, levando cestas de alimentos agroecológicos para 3.625 famílias em situação de vulnerabilidade social de 23 municípios do estado, distribuídos pelo Sertão do Pajeú, Araripe, Agreste, Zona da Mata Sul e Região Metropolitana do Recife. Tudo também com a parceria local de associações, grupos de mulheres, organizações parceiras, amigos, voluntários e secretarias de ação social dos municípios nos territórios.

Ufa, foi bastante coisa! Esperamos que em 2022 possamos continuar essa trajetória de luta, resistência e trabalho junto ao povo do campo e da cidade.

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