Sistemas Agroflorestais contribuem para diminuição de queimadas

Por Helena Dias

No dia 21 de setembro, última segunda-feira, foi lembrado o Dia da Árvore. Para celebrar a data e chamar atenção para uma pauta que é nossa todos os dias, o CAATINGA trouxe para o centro da conversa o combate às queimadas por meio de práticas que visam preservar a vegetação presente no nosso bioma caatinga. A utilização de sistemas agroflorestais é apontada como alternativa para substituir os incêndios no roçado.

Nos noticiários, muitas são as reportagens sobre os incêndios que outro bioma, o pantanal, vem sofrendo nos últimos dois meses. A situação é preocupante no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Já passam de 16 mil focos de incêndio, maior número desde 1998, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a contabilizar os dados dos períodos de seca.

Aqui no Sertão do Aararipe, no Semiárido nordestino, o bioma caatinga também corre riscos e é necessário assumir cada vez mais a responsabilidade pela preservação, aprender a cuidar de suas árvores e seus animais. Um dos gestores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Paulo Mayer, alerta que a época pede mais cautela.

“Na caatinga, estamos entrando no período mais crítico. A gente vem acompanhando os dados de monitoramento e, no ano passado, aqui na Chapada do Araripe, nós batemos todos os recordes. Anteriormente, não tivemos nenhum ano com números tão grandes de foco de calor. Vários satélites do Inpe registram focos de calor e a gente acompanha dados mais de dez anos com uma preocupação bastante grande. Nós avaliamos alguns municípios e teve um número bastante expressivo de focos de calor. Então, são estamos falando apenas da chapada, mas na parte baixa também.”.

Paulo explica que a soma da atual baixa umidade do ar e das altas temperaturas das regiões semiáridas deixa o ambiente mais propício para os incêndios, o que é conhecido como “criticidade”. Nestas condições, um fogo simples acendido para ajeitar o roçado pode ser o suficiente para formar um grande foco de incêndio difícil de controlar.

“A nossa tentativa de acordo é de outubro até dezembro. a gente trabalha com duas datas, que são 12 de outubro e 13 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Aparecida e Dia de Santa Luzia, respectivamente, para que não haja nenhum fogo nesse período. Para quem ainda precisa usar fogo, que é uma prática bastante comum no Brasil inteiro, o cuidado essencial é não queimar a área inteira. Então, é fazer os aceiros, isolar a área de fogo e, de preferência, fazer no final da tarde quando o sol não é muito forte.”.

Mayer lembra que o ideal seria não fazer queimadas e afirma que as práticas usadas nos sistemas agroflorestais são muito indicadas para preservação do solo e da vegetação. É o que também diz Francisco Barbosa de Souza, mais conhecido como Seu Nego, da comunidade do Sítio Tigre, localizada no município de Exu. Ele dá dicas para quem pensa em iniciar formas de uso e manejo da terra de acordo com as técnicas agroflorestais.

“Vão me perguntar se pode ser agora no início de setembro, já que está seco, e o que vão plantar. Quando eu iniciei, a terra estava muito seca, dura e escravada como se chama. Eu iniciei plantando a palma e o que ajuda também é o mandacaru com ou sem espinho. Em seguida, são fundamentais as sementes. Sementes de árvores nativas, frutíferas e. Em seguida, nos dias de chuva, você já vai estar com as sementes preparadas.”.

Francisco explica que é importante ter sementes de plantas e árvores adubadoras como é o caso do feijão de porco, gliricidas, leucenas, margaridão e outras que existem. Essas são as mais rápidas. Ele indica que adubação seja feita com bastante esterco, que já vem com várias sementes da caatinga.

Sobre a adubação citada pelo agricultor, Aline Honório, da equipe do CAATINGA, endossa a importância dos sistemas agroflorestais para a preservação através das práticas de cobertura vegetal, que vai se decompondo e transformando em matéria orgânica e que adubará a terra.

“Esse manejo também contribui com o controle das pragas. Essas formas de plantar são alternativas para a preservação da caatinga, porque no lugar de queimar você planta para produzir. E o manejo de raleamento e o uso da cobertura vegetal, além de preservar a caatinga, assegura às famílias agricultoras realizar a produção dos seus alimentos para consumo e comercializar o excedente, que são produtos de maior quantidade. Permite produzir alimentos para os animais e, sobretudo, fortalece a terra que é onde tudo começa.”

Aline conta que as famílias agricultoras que passaram a cultivar sistemas agroflorestais já estão entendendo que é uma decisão acertada e uma saída para não ser necessário desmatar e queimar.

Foto da matéria: Bruno Calixto/WRI Brasil

Para mais informações sobre o tema, escute o nosso programa de rádio veiculado no dia 19 de setembro deste ano: https://bit.ly/progcaatinga19092020

O programa Agricultura Familiar em Debate é transmitido todos os sábados, às 7h, na na Rádio Voluntários da Pátria FM 100.9 Ouricuri/PE. Você pode ouvir no mesmo horário pela internet: http://www.radios.com.br/play/

Foto da matéria: Bruno Calixto/WRI Brasil

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