SERTÃO DO ARARIPE

mais de 28.143 estabelecimentos agrícolas,
sendo cerca 98% considerados da agricultura familiar

O CAATINGA atua diretamente na região do Sertão do Araripe de Pernambuco, que segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui 316.862 habitantes. Com uma população rural de 163.187 pessoas, pouco mais de 51%, e mais de 28.143 estabelecimentos agrícolas, sendo que cerca de 98% desses são considerados da agricultura familiar.

O espaço agrário do território do Araripe tem origem num regime de ocupação colonial, o que resultou em uma história de subordinação da agricultura camponesa aos regimes de trabalho, uso da terra e dos recursos. É sob esse modelo excludente marcado pelo latifúndio, e pela dificuldade de acesso e posse da terra, que nos últimos 50 anos ocorrem mudanças no espaço agrário no território. Essas mudanças acontecem como resultado de leis, de políticas públicas e de luta de acesso à terra encabeçada por movimentos e organizações sociais.

Já na década de 1980 é que o processo organizativo alcança seu auge no desdobramento da organização social em várias frentes de luta hoje presentes no território. Nesse período surge o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA) que origina o CAATINGA – Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas.

A maior expressão deste conjunto de atores sociais vem sendo capaz de realizar um contraponto a lógica de concentração fundiária, ao modelo de modernização da agricultura no território baseado no uso intenso de venenos e no desmatamento do bioma Caatinga. Este contraponto é construído a partir da ampliação dos espaços de participação, do reconhecimento de novos sujeitos políticos, na luta pelo acesso à terra, à políticas públicas que possibilitem a permanência na terra, do enfrentamento da desigualdade de gênero e para o bem viver no território por meio da Agroecologia e da concepção de convivência com o Semiárido brasileiro.

BIOMA CAATINGA

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, onde predomina o clima semiárido, e de rica biodiversidade, pois grande parte de seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta.

A Caatinga ocupa uma área de cerca de 850.000 km² do território nacional, estando presente em oito estados da região Nordeste (Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) e também no estado de Minas Gerais, na região Sudeste. Pernambuco tem 80% de seu território com predominância da Caatinga, e é nessa região que está concentrada a maior parte da população rural do estado.

Com biodiversidade bastante resiliente e dotada de uma delicadeza própria, a Caatinga se transforma de acordo com o ciclo anual das chuvas. Em épocas de estiagem, a vegetação perde as folhas como estratégia de reduzir a perda de água. Assim, é possível perceber a beleza da Caatinga em épocas de chuvas, com suas folhas verdes e árvores floridas, mas também observar sua beleza e resistência em épocas mais secas.

Entre suas características estão os baixos índices pluviométricos, que giram em torno de 500 mm a 700 mm anuais, e as altas temperaturas, com médias anuais de 27 a 29 graus, além da predominância dos solos rasos e pedregosos, que armazenam pouca água.

O uso insustentável de seus solos e recursos naturais contribui para a degradação da Caatinga ao longo dos anos. Assim como o Cerrado, a Caatinga não é reconhecida como patrimônio nacional. Tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei com o propósito de alterar essa conjuntura.

Organizações como o CAATINGA atuam na defesa do bioma e em sua preservação. Além de propor e executar ações de convivência com o clima semiárido, que significam estratégias adequadas de manejo com o ambiente, consequentemente valorizando o bioma Caatinga e contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar que vive do bioma.

CLIMA SEMIÁRIDO

O atual clima do Semiárido se instalou entre 8 e 10.000 anos atrás e o comportamento das chuvas é documentado pelos viajantes desde a época do Império. Comparado com outras regiões semiáridas do mundo, onde chove entre 80 a 250mm por ano, o Semiárido brasileiro é o mais chuvoso do planeta. Nele, caem do céu, em média, de 200 a 800mm anuais. Uma precipitação pluviométrica concentrada em poucos meses do ano e distribuída de forma irregular em todo semiárido.

Como é natural das regiões semiáridas, esse volume de chuva é menor do que o índice de evaporação que, no Semiárido brasileiro, é de 3.000mm por ano. Isso provoca um déficit hídrico desafiador para quem vive da agricultura e da criação de animais na região. Esse desafio tem sido enfrentado pelas famílias agricultoras através do armazenamento de água da chuva em tecnologias sociais diversas.

A água acumulada serve tanto para consumo humano, quanto para uso na agricultura e criação animal. Por isso, a primeira tecnologia implantada na região – a cisterna de placa de cimento – representa um marco na busca da soberania hídrica e alimentar no Semiárido brasileiro.

Tanto a ausência ou escassez das chuvas, quanto a sua alta variabilidade espacial e temporal são responsáveis pela ocorrência das secas – um fenômeno natural e cíclico nesta região. Outro fator de influência é a pequena profundidade do solo, que reduz a capacidade de absorção da água da chuva. A presença de solos cristalinos na maior parte da região limita o abastecimento dos aquíferos subterrâneos. Estima-se que mais de 90% da chuva não são aproveitadas devido à sua evaporação e ao seu escoamento superficial. (Fonte: Articulação Semiárido Brasileiro)

REFERÊNCIAS:

GARIGLIO, M.A. [et al] Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da caatinga. Brasília: Serviço Florestal Brasileiro/MMA, 2010.

RODRIGUES, A.G. [et al] Sistemas Agroflorestais no Semiárido Brasileiro: estratégias para o combate à desertificação e enfrentamento às mudanças climáticas. Recife: Centro Sabiá/CAATINGA, 2016.