Com duas cisternas, família de Adão resistiu até o momento à estiagem. Mas prognóstico é de dificuldades futuras

Cisternas garantem água para consumo da família e dos animais, mas sem estoque de ração e sem produção de mel, a insegurança bate na porta desta família do Sertão pernambucano.

Por Verônica Pragana – Asacom  

Com a estocagem de alimentos, Adão consegue manter o rebanho no perido de seca
Em Pernambuco, no Sertão do Araripe, uma das três regiões do estado com o maior número de cidades afetadas pela falta de chuva, um agricultor agroecológico tem conseguido resistir, até o momento, à dura estiagem. Adão de Oliveira, Fabiana, sua esposa, e os dois filhos Fernando (8) e Fernanda (5), têm a seu dispor as duas cisternas: a que guarda água da chuva para consumo humano construída pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e a cisterna-calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que armazena água para produzir alimentos e matar a sede dos animais. Assim como o baiano Abelmanto, Adão está com a cisterna de 16 mil litros cheia com as pequenas chuvas ocorridas em sete dias espalhados entre os meses de janeiro e março. “Essa água é sagrada. A gente só usa pra comer e cozinhar”, garante. Já a cisterna-calçadão não acumulou água até a sua capacidade total de 52 mil litros. Na semana passada, o volume estava próximo aos oito mil litros. Um carro-pipa aumentou o nível do reservatório, cuja água tem servido aos animais, para lavar roupa e outros serviços domésticos. Pela relação estreita com a chuva, é comum no Sertão o agricultor medir a pluviosidade a cada queda d´água. Adão é um desses. Tem anotado todos os dias de chuva e o respectivo volume de água. Ele conta que, em 2011, choveu 536mm de forma bastante irregular. A média anual de chuva na região varia entre 600 e 700mm. “Não foi ruim para o cultivo apesar de não ter sido boa para acumular água nos reservatórios”, diz ele. No inverno deste ano é que a situação piorou bastante: só choveu contados sete dias e 131mm, que somados à situação dos reservatórios pouco abastecidos, tem gerado condições bastante desfavoráveis à sobrevivência na região. O problema maior de Adão e Fabiana é que eles não estão com estoque de alimentos para as 20 cabeças de bode e o milho das 20 galinhas só dura mais um mês. O feno estocado de maio a junho de 2011 foi consumido nos meses seguintes. Por enquanto, ele está deixando os bodes soltos para comer a capoeira (capim nativo da Caatinga) e tem palmas forrageiras que estão sendo guardadas para quando o capim acabar. As hortaliças que alimentavam a família e eram vendidas na feira deixaram de ser produzidas. Isso é fonte de preocupação de Adão porque ele conhece o risco dos alimentos que vêm de fora. “Temos medo de consumir porque sabemos como foi produzido”, diz isso referindo-se aos venenos empregados nas plantações. Agroecológicos, Adão e Fabiana produzem seus alimentos sem nenhum agrotóxico. Quando perguntado sobre o impacto da seca na renda familiar, Adão admite que este ano vai ser complicado porque não haverá produção de mel, de onde vinha um reforço na renda. O dinheiro vai se restringir à Bolsa Família dos dois filhos e uma ajuda de custo de R$ 100,00 que Fabiana começa a receber por participar dos cursos oferecidos no Programa Mulheres Mil, que faz parte do Plano Brasil sem Miséria. “O Garantia Safra não foi liberado em Ouricuri no ano passado e este ano não sei se receberemos”, acrescenta. Para completar a renda, Adão planeja vender alguns animais do rebanho e trabalhar diarista, tanto como servente ou em alguma roça no seu próprio município. Quando perguntado se viajaria para outro lugar, responde que sim, mas deixa claro que vai empurrado pela falta de alternativa. Nos seus 35 anos, Adão só se aventurou uma vez no trabalho distante de casa. “Eu tinha mais ou menos 14 anos e fui trabalhar em Petrolina nos projetos de irrigação da uva. Mas só passei três meses.” Adão conta que no assentamento onde mora o clima é de desolação e de tristeza. “As pessoas não querem sair, mas têm que procurar saídas para a situação. Algumas já foram para Petrolina, outras vendem os animais. A esperança está se acabando porque o período de inverno está se esgotando”, comenta. E se pudesse dar um recado para a presidente Dilma, o que diria? “Para não olhar só para o período crítico e trabalhar a prevenção construindo cada vez mais reservatórios de água, barreiros e poços. A seca é um fenômeno, não tem como reclamar muito. O sertanejo é forte, guerreiro, ligado à família, não gosta de estar se afastando de casa para trabalhar. Eu mesmo não quero ficar esperando uma ação de fora. Quero ter condições de plantar e viver bem onde moro, sempre”, arremata.

Compartilhe