Territórios de lutas, futuro de conquistas

Por Fernanda Cruz – Asacom Foto: João Ripper Viva Zumbi, viva a liberdade, viva o Semiárido! O segundo dia do VIII EnconASA , nesta terça-feira (20), começou celebrando o Dia da Consciência Negra e os mártires do Semiárido, a exemplo de Antônio Conselheiro. Precedida de muita música e animação, mais de 600 pessoas conheceram realidades de luta e resistência dos povos do Semiárido, mais especificamente dos povos do Vale do São Francisco, no território mineiro; e da Chapada do Apodi, território do Rio Grande do Norte. Na mesa “ Territórios de Convivência – Trajetórias de Lutas, Resistências e Conquistas para a Superação da Pobreza e Construção da Cidadania”, a beleza do rio São Francisco foi pano de fundo para o vídeo “Território do Vale do São Francisco”. Retratando a realidade de diversos povos do Semiárido mineiro, o vídeo traz depoimentos, que juntos apresentam a luta pela terra e pelo território dos quilombolas, indígenas, vazanteiros, geraizeiros, guardiões de sementes, etc. A realidade da Chapada do Apodi foi retratada pelo grupo teatral Escarcéu. A peça misturou encenação e música, demonstrando, de maneira lúdica, o impacto do projeto implementado pelo Governo Federal, através do DNOCS, na Chapada do Apodi, que prevê a instalação de perímetros de irrigação que beneficiarão grandes empresas fruticultoras, em detrimento dos agricultores da região. Vale salientar que a Chapada do Apodi tem um histórico de luta pela reforma agrária que data da década de 1970. Nos últimos dez anos, várias pessoas foram assentadas nessa área, dando início ao processo de convivência com o Semiárido. “Fala sobre a importância de mostrar essa experiência no EnconASA”. Apesar dos quilômetros de distância, o povo quilombola de Brejo das Crioulas, em Minas Gerais, também vive uma situação semelhante de opressão, sob a ameaça de perder todo o seu território. No caso do povo mineiro, parte da área foi tomada pelos fazendeiros, restando apenas três mil hectares dos 17 mil que pertencem ao povo de Brejo dos Crioulos. As experiências apresentadas provocaram a plateia. O agricultor José Nobre, do Sítio Augustinho, em Sergipe, não se intimidou em pegar o microfone e ser o primeiro a falar. “Para mim não importa o quanto eu sei de acentuação, mas o que importa é o que eu entendo sobre a minha terra. Aqui estamos falando de agricultor para agricultor, de camponês para camponês. Não estamos falando para os doutores”.  Ele também questionou: quem é que coloca alimento na mesa dos doutores? Somos nós, respondeu, recebendo aplausos do público. Segundo Carlos Dyrell, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, a realidade apresentada demonstra a necessidade de políticas estruturantes para o Semiárido, em lugar das políticas compensatórias praticadas atualmente. “Precisamos de políticas de proteção das terras e territórios dos povos camponeses e de um projeto de revitalização socioambiental do rio São Francisco”, exemplificou. O assessor da KAS, Adriano Martins, encerrou a manhã fazendo uma leitura política da mesa. Segundo ele, o desafio para o povo do Semiárido não é pequeno, mas ressaltou a grande capacidade que a ASA tem para se mobilizar. “Precisamos refletir sobre como nos colocamos nesse contexto de disputa”, destacou. Para Cristina Nascimento, coordenadora executiva da ASA e coordenadora da plenária, esse debate representou o ponto de partida do VIII EnconASA. “Esse debate tem uma relação direta com os encontros estaduais da ASA, que também refletiram sobre seus territórios, e é ele que irá nos orientar sobre a continuidade das ações da ASA”, pontuou.

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