“Temos de mudar essa lógica do combate a seca e ter de fato politicas públicas de convivência com o Semiárido”

Por Daniel Ferreira – Assessor de comunicação Confira a entrevista da secretária executiva da Cáritas Diocesana de Pesqueira e Coordenadora Executiva da ASA pelo Estado de Pernambuco, Neilda Pereira.  Nas próximas linhas, Neilda faz um balanço das principais ações de 2013 e seus desafios e fala das perspectivas para 2014. O Semiárido brasileiro, em particular o pernambucano, está atravessando umas das maiores secas dos últimos 30 anos da história da região. Passamos 2012 com muita dificuldade, mas também com muitas conquistas. E como podemos avaliar o ano 2013 para a agricultura familiar face a um contexto de grande estiagem? Neilda Pereira – Embora sendo um ano que trouxe dificuldades para as famílias agricultoras devido aos efeitos da longa estiagem que alguns dizem que foi a maior dos últimos 30, 40, 50, enfim foi um ano onde se mostrou claramente que precisamos investir na lógica da convivência com o Semiárido. Isso, a partir de duas vertentes: 1) das pessoas que moram nessa região adotarem a lógica da estocagem de água, de alimentos; 2) das politicas públicas serem mais bem planejadas, discutidas e, sobretudo desenvolvidas para que no período da estiagem que é uma característica peculiar da região possamos vivenciar diferente. Por outro lado, tivemos a oportunidade de visualizar um conjunto de experiências desenvolvidas pelos agricultores e agricultoras no campo da agroecologia, da captação de água de chuva para consumo humano e produção, segurança e soberania alimentar que tem mostrado que é possível viver na região, desenvolvendo ações estruturantes. Ao mesmo tempo, é importante ressaltar a ampliação das ações da ASA no semiárido, através da parceria com a Fundação Banco do Brasil, BNDS, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á Fome. Aqui, em Pernambuco, destaco a parceria com o Governo do Estado através da Secretaria de Agricultura e Reforma Agraria.   Este ano foram deflagradas as Conferências de Convivência com o Semiárido no Estado, fruto da construção e articulação das organizações da ASA/PE. O que esse momento representa para a ASA/PE com o seu conjunto de organizações? Neilda Pereira – Para a Articulação no Semiárido Pernambuco foi um passo fundamental no debate das politicas públicas de convivência com a região. No entanto, precisamos acompanhar a materialização dessas ações nas regiões, municípios e comunidades, é na vida das pessoas que moram no Semiárido pernambucano que essas politicas precisam chegar. É lamentável que o Estado gaste tanto recurso com carro pipa e outras ações emergências, para amenizar a situação que não resolve e que se repete uma vez que a estiagem é um fenômeno natural, ou seja, faz parte da nossa região. E nesse sentido, a Lei Estadual de Convivência, as conferências – que culminaram na construção do Plano Estadual de Convivência – é uma oportunidade que temos de mudar essa lógica do combate a seca e ter de fato politicas públicas de convivência com o Semiárido no âmbito municipal, estadual e nacional. Para isso, precisamos a partir de agora investir ainda mais nesse debate.   O ano de 2013, foi um ano de muita superação para as organizações da ASA/PE e as famílias agricultoras, bem como um ano de muitas realizações importantes para essa rede. Quais as expectativas para 2014? E sua mensagem final? Neilda Pereira – A nossa expectativa para 2014 é que possamos dar continuidade ao debate que temos feito no semiárido pernambucano, avalio que precisamos ficar atento ao esforço que fazemos na discussão, proposição, seja intensificado no acompanhamento das ações.  Nessa perspectiva, destaco a elaboração dos planos municipais de convivência com o Semiárido; e a materialização das ações do Plano Estadual e o debate do marco regulatório.  Que em 2014, possamos dar continuidade as ações, ampliando o diálogo com os movimentos sociais, redes e articulações para que as conquistas que, hoje, celebramos no campo do acesso à agua possamos também celebrar no campo da luta pela terra, educação contextualizada, saúde, assistência técnica, pois é no Semiárido que a vida pulsa, é no semiárido que o povo resiste.  

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