Troca de saberes entre Bahia e Pernambuco

Por Higor Soares – comunicador do Agrocoop A AGROCOOP, por meio do Projeto Mais Água em parceria com o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), reuniu 57 agricultores e agricultoras do Semiárido baiano para realizarem um Intercâmbio Interestadual com destino a Cidade de Ouricuri no estado de Pernambuco. A caravana foi composta por beneficiários e membros das comissões dos municípios de Iraquara, Mulungu do Morro, Jussara, Bonito, Cafarnaum, Ibipeba e Souto Soares. Em Ouricuri a caravana foi recepcionada por colaboradores e beneficiários da ONG CAATINGA (Centro de Assessoria e Apoio a Trabalhadores/as e Instituições Não Governamentais Alternativas), que a mais de 25 anos atua no Território Sertão do Araripe. Atualmente a ONG dissemina sua missão, “Semear a agroecologia para uma vida digna no Semiárido”, em 10 municípios da região através de ações e projetos sociais. Para Jailson Oliveira, coordenador do projeto Mais Água pela AGROCOOP, esses momentos são de enriquecimento cultural e valorização do saber popular, segundo ele“os intercâmbios fortalecem a identidade dos agricultores e agricultoras e valorizam seus conhecimentos e experiências do trato com a água e a terra.” Ponderou o Cooredenador. Em uma visita de campo, realizada na Agrovila Nova Esperança, o grupo pode ver como funciona na prática o conceito de Educação Contextualizada aplicado na escolinha local. Izabel, Diretora da instituição, esclareceu que o intuito é desenvolver o conhecimento nos alunos de dentro para fora e não de fora para dentro. “O que entendemos é que as crianças aprendem com maior facilidade quando tratam de assuntos que elas conhecem, por isso buscamos adequar a linguagem de todas as disciplinas ao que é de convivo dos alunos. Por exemplo, ao invés de somarmos maçãs, somamos umbus, ou substituímos torta de morango por doce de banana”.Explicou a Diretora. A escola ainda possui um quintal onde as crianças aprendem a cultivar de forma sustentável. Abriga também um banco de sementes crioulas e um viveiro de mudas cedido pelo CAATINGA através do P1+2. Ainda na Agrovila os agricultores/as visitaram a propriedade do Sr. José Nilton, considerada como Quintal de Referência por seguir os preceitos da agroecologia. Além do uso de adubos orgânicos e do não emprego de defensivos ou agrotóxicos de qualquer natureza, o quintal de José Nilton se destaca pela diversidade dos cultivos e pelo zelo visível que o agricultor tem ao labutar a terra. O agricultor se emocionou ao relatar que quase abandonou sua terra para “tentar a vida” nos grandes centros urbanos. Ele revelou que desistiu da ideia graças aos cursos aplicados na comunidade pelos técnicos/as do CAATINGA e pela construção de suas cisternas (consumo e produção) que o fizeram resistir no cultivo do seu quintal, do qual tem muito orgulho. “Quando eu penso que poderia estar trabalhando em outra coisa e talvez tendo que comprar no mercado, para minha família, comida envenenada de agrotóxico, me da um aperto no coração.” Comenta emocionado o agricultor. A caravana teve ainda a oportunidade de conhecer a sede rural do CAATINGA, no povoado de Lagoa do Urubu, onde foram conduzidos pelo Sr. Iran, membro da coordenação executiva da ONG, que relatou fatos importantes da história de desenvolvimento e conquistas da instituição. Para Iran, o CAATINGA tem desenvolvido um papel preponderante na transformação da realidade da região. “Nesses mais de 25 anos de existência o CAATINGA tem buscado formas sustentáveis de auxiliar as famílias do Sertão do Araripe utilizando como base a agroecologia, a Educação Contextualizada e as tecnologias de Convivência com o Semiárido para garantir a sustentabilidade dos sistemas familiares de produção”, contou Iran. Para Erasmo Sodré, Coordenado do P1+2 na AGROCOOP, outro fator importante do Intercâmbio é a interação social entre os agricultores/as de municípios vizinhos.“Eles enfrentam as mesmas dificuldades e cada um tem uma maneira diferente de superar os problemas. Durante o percurso da viagem, nas refeições ou mesmo a noite antes de irem dormir, eles conversam entre si relatando suas experiências e trocando conhecimentos.” explanou Erasmo. O Intercâmbio, realizado do dia 07/04 a 09/04, possibilitou que os agricultores/as conhecessem ações diferenciadas de Convivência com o Semiárido e pudessem trocar saberes e experiências de suas diferentes regiões fazendo circular o conhecimento produzido em diversos lugares do Semiárido brasileiro. Para o agricultor Ruberval Rodrigues da Silva, ou Rubão como é popularmente conhecido, o mais importante no Intercâmbio são os exemplos reais vistos nas visitas de campo. “Tem gente por aí que não acredita que nossa terra é fértil, eles desprezam nosso esforço e conhecimento. Quando visitamos outros lugares e vemos que não estamos sozinhos na luta pela agricultura familiar e pela Convivência com o Semiárido, voltamos pra casa cheios de disposição pra semear o que aprendemos.” Afirmou o agricultor.

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