Caravana tem início com discussão sobre contradições do Araripe

Por Eduardo Amorim – comunicador do Centro Sabiá O primeiro dia da Caravana do Araripe foi marcado pelos encontros de pessoas com trajetórias muito diferentes, mas que têm em comum o interesse por uma forma mais ecológica de fazer agricultura e o respeito pela região mais a Oeste de Pernambuco. Organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o encontro está sendo sediado pela ONG Caatinga, em Ouricuri, e conta com cerca de 120 pessoas de todos os estados do semiárido, além do Rio de Janeiro e de Brasília. Secretária Executiva da ANA, Flavia Londres, recebeu o grupo e contou que a Caravana do Araripe faz parte do projeto “Promovendo agroecologia em Rede”, que surgiu a partir das discussões do III Encontro Nacional de Agroecologia. Em todo o Brasil, estão sendo realizados 18 estudos de caso que mostram as potencialidades da agroecologia em sete territórios, que representam todas as regiões brasileiras. “A história contada pelo povo do Araripe a gente não lê nos livros oficiais, nem está na mídia, em especial a luta das mulheres precisa ser contada”, disse o anfitrião e coordenador da ONG Caatinga, Giovane Xenofante, deixando claro que o estudo foi muito importante mesmo para quem vive a região conhecer outras facetas da história da agricultura e da vida nesta porção do semiárido. O Araripe compreende 11 municípios de Pernambuco. Depois de ser apresentado o território e de uma mística realizada na Lagoa do Urubu, sede rural do Caatinga, os integrantes da Caravana do Araripe se dividiram em quatro grupos para conhecer experiências que têm dificultado a agricultura familiar na região. Uma delas, foi de famílias que tiveram suas terras cortadas pela Transnordestina, lutaram para conseguir a indenização, a construção de passagens para o outro lado e continuam vivendo dificuldades por conta da ferrovia. Quem recebeu o grupo em sua casa foram os agricultores Francisco Alerio e Inocência Conceição, que contaram uma história de muito desrespeito pelos responsáveis pela construção, realizada pela empreiteira Odebrecht. A obra foi em 2009, mas até 2011 nenhum morador tinha recebido as indenizações. No caso do casal, eles perderam a casa onde moravam, além de mais de 1 hectare de terras e receberam ao final de uma grande luta apenas R$4.200. “A indenização não contribuiu nem com a metado do valor que a gente teve de prejuízo aqui e ainda tinha que tirar o pagamento do advogado”, resumiu o dono da casa. Dona Inocencia contou que estava muito doente neste período e que ia passar as noites na casa de sua irmã, já que a obra não parava à noite e era impossível dormir em sua casa. “Se foi um ano de obras, para mim foram 10 porque você passava a noite acordado e de dia não podia nem comer com a poeira”, disse. Líder comunitário no Sítio Estaca, João Henrique, conta que cerca de 200 famílias tiveram suas propriedades cortadas pela ferrovia nas proximidades da comunidade. Para a representante da ONG Fase e da Articulação Nacional de Agroecologia, Maria Emília Pacheco, “a lição que eu levo daqui é que essa luta (contra os megaempreendimentos) não pode ser só de uma comunidade, o povo da cidade também precisa se envolver nessa discussão. Nesta sexta-feira, a Caravana do Araripe segue com visitas a experiências positivas de agricultores e agricultoras agroecológicos e no sábado será apresentado o estudo realizado por consultores da UFRPE.  

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