Estudo de agroecossistemas do Araripe permite reflexão sobre a diversidade da agricultura familiar

No território sertão do Araripe pernambucano, a agricultura familiar ainda é a atividade econômica predominante. Embora seja uma das mais importantes fontes de renda da população, ela não se limita a uma forma única de produção. Se de um lado as famílias primam por uma produção limpa que gere saúde e renda, por outro agricultores e agricultoras se especializam em algum tipo de cultivo ou na criação de animais para gerar renda. Independente do modo de fazer, no território os camponeses e camponesas sofrem impactos diretos seja dos conflitos de terra, agronegócio, uso de agrotóxicos, gesso ou transnordestina –  fatores que abalam significativamente a produção e a vida no campo. Nesta conjuntura, a apresentação do “Estudo de Viabilidade Econômica e Ecológica dos Agroecossistemas do Araripe”, durante a Caravana Agroecológica e Cultural do Araripe que aconteceu entre os últimos dias 25 e 27 de fevereiro na sede rural do Caatinga em Ouricuri, com cerca de 120 participantes de dez estados do país, possibilitou a reflexão sobre a realidade da produção agropecuária e agrícola do território. Os debates e visitas a experiências de agricultores/as familiares possibilitou uma gama de respostas para a questão levantada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA): Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia? O estudo foi realizado no território por um conjunto de parceiros que trabalham no fortalecimento da agricultura familiar, que após varias análises, com objetivo de facilitar o entendimento e o procedimento do estudo, sugeriu que a agricultura do território estaria agrupada em quatro tipos: os chamados “sem sem” que consiste em famílias que não têm acesso a políticas públicas e que ainda vivem em situação de vulnerabilidade econômica; Sistema tradicional em que as famílias mantêm uma agricultura de sequeiro e plantam em sua maioria para consumo; Transição agroecológica em que há uma produção limpa e sustentável para consumo e venda; por fim a agricultura que tende à especialização, a qual utiliza-se de insumos químicos e apresenta uma forte dependência do mercado. Laetícia Jalil durante apresentação dos resultados do estudo Dentre os aspectos levantados na pesquisa estão a divisão sexual do trabalho, renda, uso de insumos externos, diversidade da produção e autoconsumo. Na produção agroecológica vê-se claramente a transformação na vida das pessoas por meio da produção coletiva, autonomia com relação ao mercado de insumos, produção diversificada, soberania alimentar e outras características que ratificam o que já foi destacado em relatório publicado em março de 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o título “Agroecology and the right to food” (tradução livre “Agroecologia e o direito à alimentação”), o qual destaca a agroecologa como forma de acabar com a fome no planeta. Para a coordenadora do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra), Cristina Nascimento apoiar a produção agroecológica é de suma importância para manutenção da vida no planeta. “A agroecologia reafirma vida e o cuidado com as pessoas. O outro sistema tem em sua centralidade o lucro; a lógica é apenas do produzir”, salientou. Sobre o território a presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emilia Pacheco, destacou que “aqui nós tivemos muitos motivos para a comprovação da pergunta por que interessa a sociedade apoiar a agroecologia? de um lado vimos o quanto a garantia de tecnologias apropriadas para a convivência com o Semiárido, tem permitido que vários subsistemas sejam potencializados e melhoram a qualidade da alimentação das famílias e promovam a mudança na divisão sexual do trabalho e na vida das mulheres. Por outro lado vimos claramente o que há de bloqueios e esta concepção só fica mais clara porque tivemos a oportunidade de entender o território do ponto de vista dos grandes projetos e seus impactos”, destacou. O estudo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) foi realizado no território do Araripe, com o apoio das organizações Caatinga, Chapada, MPA, MST, Fetape, Centro Sábia, Cresol, Copagro, Fórum de Mulheres do Araripe, Grupo de Mulheres Jurema, Caatma, e STR de Exu. A facilitação da pesquisa e sistematização dos dados ficou a cargo dos professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Laetícia Jalil e Marcelo Casimiro.  

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