Sementes que geram autonomia, diversidade e renda

Experiência da família de Dona Maria e Seu Zezé mostra a importância de guardar sementes durante o I Encontro Estadual de Sementes de Pernambuco A cultura de armazenar sementes faz parte do cotidiano de centenas de sertanejos e sertanejas, os quais aprenderam a guardar com os pais e reproduzem a prática para os filhos. No Sitio Serrinha, município de Triunfo no Sertão do Pajeú de Pernambuco não é diferente. O casal Maria Alves dos Santos e José Alexandre Gomes e seus dois filhos sabem que guardar sementes é preservar a vida. “Meu pai já plantava essas sementes que tenho no meu banco. Eu nunca deixei de plantar milho e feijão. Eu plantava braiado (consorciado) no café, por isso eu ainda tenho minha semente” conta o agricultor que por muitos anos trabalhou para um grande produtor de café para a região, e só em meados de 2000 iniciou o plantio na sua roça. Ele ensina ainda como manter as variedades de sementes, “Você nunca deve plantar uma semente estocada toda, você deve plantar metade porque se não der, você garante a semente de plantar no outro ano”, ensina. Milho asteca e dente-de-burro; fava-rajada-vermelha, fava-rajada-preta, fava cearense; feijão rosinha, carioquinha, vermelho, carioca-mão-curta, alface, cebola e coentro. Estas são algumas das variedades que a família guarda com orgulho e que também lhes dá autonomia de quando plantar sem depender do mercado e das sementes distribuídas pelo governo. Dona Maria Alves é também guardiã de sementes. Com um grande amor pela terra e pelo cultivo ela cumpre um importante papel no sistema da família, pois é a agricultora quem mantém as hortaliças que são consumidas em casa, vendidas na feira do município e feitas sementeiras para guardar no banco de sementes familiar. “Aqui é meu pedacinho de céu. Quando pego a enxada e venho pra horta, aqui eu me realizo”, diz com entusiasmo. Renda Mesmo com dois aposentos, a família não se acomoda. Nas mais de cem tarefas cultivam frutíferas, hortaliças, criam galinhas e carneiros. Cada pessoa da família desenvolve uma atividade produtiva e recebe o lucro da venda. Dona Maria cultiva hortaliças, plantas medicinais e faz artesanato; Seu Zezé cuida das fruteiras, do viveiro de mudas e dos plantios de ilho, feijão e macaxeira; o filho Léo cultiva e cuida das bananas; a filha Léia prepara os bolos e outros alimentos beneficiados que vão para a feira, cuida dos afazeres domésticos e também trabalha com o artesanato. O que se produz nesta terra que de tudo dá é para consumo da família, o que excede da colheita é vendido na feira do município todos os sábados. Além das frutas, mudas e hortaliças, a família comercializa arroz vermelho, galinha de capoeira, mungunzá, tapioca, broa, bolos, frutas, hortaliças e artesanato. “Eu não compro feijão, hortaliça, eu não compro frutas. O sabão a gente faz em casa. A gente compra pouca coisa no mercado”, afirma Seu Zezé. Encontro de Sementes A experiência da família foi visitada na manhã desta terça-feira, 22, no I Encontro Estadual de Sementes do estado de Pernambuco, cujo tema é “Sementes crioulas, patrimônio da agricultura familiar”. O evento que segue até amanhã, 23, reúne cerca de cem agricultores e agricultoras de todo o estado, no município de Triunfo e pauta debates sobre a importância do armazenamento, multiplicação e troca de sementes. Esta é uma ação do Programa Sementes do Semiárido da Articulação no Semiárido (ASA) executado pelas organizações Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Caatinga e Centro Agroecológico Sabiá. O apoio é do Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).  

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