Educação contextualizada fortalecendo a luta por direitos no Araripe de Pernambuco
por Catarina de Angola e Kátia Rejane
O Brasil vive um momento de retrocessos de direitos, cortes de políticas e programas sociais, reformas na educação e nas leis trabalhistas que não trazem benefícios à população. Escolas rurais sendo fechadas e a proposta de fortalecimento de uma educação contextualizada cada vez mais ameaçada. Todo esse conjunto de retrocessos tem impactado também na garantia do acesso das pessoas ao alimento. A fome tem mais uma vez voltado a registrar índices alarmantes em todo o país e o Brasil caminha para voltar aos Mapa da Fome, das Nações Unidas (ONU). Outro risco que a população passa, em especial a da região semiárida, é a da sede, já que os recursos para os programas que garantiam o acesso à água de qualidade no Semiárido foram cortados quase que por completo.
É nesse contexto que o CAATINGA realizou no último dia 08 de agosto o “Encontro Territorial Cisternas nas Escolas – Água de Educar”, em Ouricuri, que refletiu sobre essa situação e, em especial, os desmontes na educação. A ação integra a execução do Programa Cisternas nas Escolas, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), realizado na região pelo CAATINGA. O encontro reuniu representantes de escolas e secretarias municipais de educação dos municípios de Parnamirim, Ipubi, Santa Cruz, Granito, Exu, Ouricuri e Trindade, no Sertão do Araripe de Pernambuco, para discutir educação contextualizada.
“O projeto cisterna nas escolas têm fortalecido a ampliação do acesso à água de qualidade nas escolas rurais do Araripe, mas também tem sido um instrumento mobilizador da comunidade escolar na construção de uma educação que incentiva a criatividade, a crítica e a construção de novos conhecimentos”, explica Lana Fernandes, integrante da coordenação do CAATINGA.
O encontro foi também momento de anunciar a iniciativa de escolas que estão construindo os seus planos políticos pedagógicos com a participação da comunidade, escolas que aumentaram suas notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), depois que começaram a trabalhar com educação contextualizada para a convivência com o Semiárido. E denunciar o número de escolas do campo que estão sendo fechadas. “Aqui no Sertão do Araripe contribuímos com esse processo junto a 200 escolas rurais. Entre os resultados, percebemos a comunidade escolar construindo seu Plano Político Pedagógico, comunidades resistindo ao fechamento das escolas, professoras e professores repensando e inovando seu jeito de realização das aulas e pais e mães, cozinheiras e auxiliares envolvidos nos momentos de formação sobre a realidade local, a identidade das pessoas e comunidades, a cultura e o respeito ao meio ambiente”, reforça Lana.
Essa foi também a percepção da professora Jucilene, que atua em Parnamirim. Para ela, a chegada da cisterna foi importante porque, além da estrutura, outros conhecimentos passaram a serem partilhados. “Todo esse processo contribuiu com a forma de trabalhar contextualizado na sala de aula. Os benefícios que chegam com a cisterna na escola são também de aproximação das famílias no desenvolvimento das atividades. E aprendemos mais a trabalhar as questões do Semiárido, com os encontros, as visitas, percebemos outras formas de trabalhar as aulas. Foi muito gratificante”, conta.
Para a professora Vera Lúcia, de Exu, a partilha dos conhecimentos com outros educadores e educadoras e os momentos de formação proporcionados pela ação, contribuíram muito. “Vimos na prática o que é educação contextualizada. É como um fio que vai sendo puxado e quando mais puxa o fio do novelo mais se tem a mostrar”, diz.
No entanto, os desafios estão colocados. Os cortes nos diversos programas para o Semiárido, para a educação do campo e para a agricultura familiar impactam no desenvolvimento e fortalecimento dessas ações, que já tem muitos desafios. “Percebemos que essas experiências necessitam serem fortalecidas e aprofundadas nos municípios, para uma maior incidência nos planos de educações municipais e projetos políticos pedagógicos das escolas”, pontua Lana.
Semeando Vida Digna – Neste ano, o CAATINGA completa 30 anos de atuação na promoção da agricultura familiar, da convivência com o Semiárido e da Agroecologia. Ao longo deste semestre uma série de ações serão realizadas como forma de marcar a data, celebrar com as parcerias, agricultores e agricultoras e com a sociedade, mas também de refletir sobre o atual momento que o país vive e o impacto dessas mudanças na vida das pessoas, seja do campo ou das cidades. Contribuindo para fortalecer as lutas na defesa dos direitos e contra os retrocessos, como a fome e da sede no país.