Amanhã (13), agricultores/as familiares de todo o Semiárido visitam experiências de convivência no Cariri cearense e trocam sementes crioulas


Localização das experiências do Cariri cearense que serão visitadas por agricultores/as de todo Semiárido

A troca de conhecimento é ferramenta chave para o crescimento pessoal e social. No campo não poderia ser diferente. É por meio de experimentações de novas técnicas e tecnologias, de informações passadas em uma conversa que a agricultura familiar e a agroecologia vai ganhando novos ares. E é com esse espírito de abranger o conhecimento de quem mora e vive do campo que acontece o V Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores (V ENAE), em Juazeiro do Norte, no Cariri. O Encontro, que vai de hoje (12) a sexta-feira (15), é realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).

Amanhã de manhã (13), os 250 participantes vão a campo conhecer dez experiências de convivência com o Semiárido no território do Cariri cearense. (Para conhecer mais sobre as experiências, clique aqui e acesse os boletins com as histórias das experiências visitadas).

“Os intercâmbios possibilitam um rápido processo de aprendizagem entre os atores e atrizes envolvidas. O intercâmbio possibilita uma troca, uma soma de experiências tanto de quem tá recebendo a visita, como de quem tá visitando. Os intercâmbios têm essa característica de ser um veículo de soma de saberes e, se tratando de um encontro do porte do Encontro Nacional de Agricultores/as Experimentadores, essa soma de saberes vai para além do território regional, estadual. Ele abrange todo o território do Semiárido brasileiro”, comenta Ricardo Vieira Borges, coordenador-geral da Associação Cristã de Base (ACB) e membro da equipe organizadora do evento, essas atividades,

Seu Zé Artur (em pé) e dona Bastinha | Foto: Francisco Barbosa

Um dos intercâmbios será em Nova Olinda, na comunidade de Lagoa dos Patos, na propriedade de José Raimundo de Matos, 76, conhecido como Zé Artur, e Sebastiana Luiza de Matos, 75, chamada de Bastinha. Lá, os/as participantes poderão conhece melhor como funciona um Sistema Agroflorestal (SAF), criado há 23 anos. Em 18 hectares, o casal cultiva uma variedade de alimentos como feijão, milho, fava, manga, laranja, seriguela, limão, acerola, araticum, condessa, atemoia, palma forrageira, além de criarem pequenos animais como aves, suínos e caprinos.

A área da família recebe visitantes que têm curiosidade em saber como funciona o sistema agroflorestal. “A gente adora receber esse povo aqui em casa porque eles vêm pra conhecer esse sistema que estamos trabalhando. Às vezes a gente tem até 35 pessoas aqui. A gente fica conversando e palestrando. As visitas começaram em 1998, bem no começo do nosso sistema”, diz Bastinha, comentando que já receberam visitantes internacionais vindo da Bélgica, Alemanha e outros países.

E o que se pode esperar destes intercâmbios? “Não tem outra palavra pra descrever senão: Encantamento. O território do Cariri, esse Sertão do Araripe, como a gente chama aqui, é um território encantado já desde épocas remotas. Que essas pessoas se encantem, porque as pessoas que vão receber esses intercâmbios são pessoas que encantam. E acredito, também, que as pessoas que estão chegando para visitar também são pessoas que encantam, porque isso é uma característica do povo sertanejo”, responde Ricardo Borges.

O encontro reúne aproximadamente 250 pessoas, na sua maioria agricultores e agricultoras experimentadores/as dos 10 estados do Semiárido brasileiro (de Minas Gerais ao Maranhão), e também representantes de instituições de pesquisa e de organizações de fortalecimento da agricultura familiar e parceiros.

Feira de Sementes do Semiárido – Na volta das visitas de campo, às 15h, é a vez das guardiãs e guardiões de sementes crioulas dos 10 estados do semiárido brasileiro compartilharem o material genético que eles usam para plantar e se alimentar há anos, algumas vezes, há séculos. Na ocasião, será realizada a II Feira de Sementes do Semiárido.

Guardiãs e guardiões são as pessoas que conduzem a tradição de estocar sementes por muitos anos e a repassam de geração em geração. Cada estado possui sua cultura de sementes e uma nomenclatura com a qual as sementes crioulas foram batizadas. Sementes da Resistência, Sementes da Paixão, Sementes da Terra, Sementes da Partilha marcam a tradição em Alagoas, Paraíba, Bahia e Pernambuco, respectivamente. No Ceará, o nome utilizado é Sementes da Vida.

De acordo com Nacélio Chaves, coordenador no Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria do Programa Sementes do Semiárido – um dos programas da ASA – e um dos organizadores deste momento, a feira será um pequeno exemplo da diversidade das sementes crioulas da região e também promoverá uma grande troca de experiências entre os estados, cada um com sua cultura, com seu modo de trabalho. “Teremos depoimentos de guardiãs e guardiões na abertura da feira sobre como se dá o processo da guarda da semente, qual a importância da guarda. Teremos depoimentos de agricultoras/es falando da importância de um encontro nacional como esse para fortalecer a agricultura familiar”, afirma ele.

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