V ENAE: “Participando sem medo de ser mulher

Por Elka Macedo – ASACom

“Dia a dia a tragédia anunciada, por ser voz sempre pronta pra falar. Que este mal não se pode aceitar sem antes se fazer o bom combate, pois se for pra eu calar antes me mate, pois em vida ninguém vai me calar”. A poesia da cordelista cearense, Daniela Bento, abriu a plenária das mulheres que aconteceu na tarde desta terça-feira (12), durante a quinta edição do Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores. O momento que contou com a presença de cerca de 80 mulheres, trouxe a reflexão sobre as conquistas, enfrentamentos e desafios das mulheres frente à conjuntura política atual. O espaço foi facilitado pelas agricultoras experimentadoras, Maria do Céu, que veio de Solânea (PB) e Antonieta Santana, de Canindé do São Francisco (CE).

Nas falas, as mulheres trouxeram os desafios de protagonizarem suas lutas dentro de casa, no trabalho, na comunidade e em espaços de organização como grupos, associações e sindicatos. “Não foi de graça que a gente conseguiu chegar até aqui, foi com muita luta. Muita gente falou da Marcha das Margaridas, porque o enfrentamento que nós fizemos foi com muita luta. Nós enfrentamos nossos filhos, nossa família. Pra gente chegar aqui não foi fácil”, disse a agricultora do Norte de Minas Gerais, Jesuilda Celeste. Ainda no campo dos desafios, ela destacou: “outro enfrentamento muito forte que estamos enfrentando é a mineração do ouro. No assentamento que eu moro a gente não usa veneno, o que a gente produz é agroecológico, mas a gente tem que lidar com eucalipto e com a mineração do ouro”.

Na perspectiva do acesso a políticas e do empoderamento feminino, dona Maria Ana, agricultora experimentadora do Assentamento 10 de abril, município do Crato (CE) enfatizou: “quantas comunidades ainda não estão precisando de uma cisterna, de uma associação, de uma palavra dessa: – mulher tu faz o que quer porque o mundo é nosso! Quantas mulheres não têm ainda que fazer só o que os homens colocam ela pra fazer. Mas tem mulher que tem medo do homem e tem muita mulher acomodada ainda”.

Nos últimos anos as populações do campo e da cidade têm testemunhado a extinção de políticas e programas que estavam contribuindo para a melhoria de vida das pessoas, principalmente das populações mais vulneráveis, mulheres e jovens. Neste contexto, Andreia Souza, coordenadora da organização cearense Esplar, explicita que “de 2005 até 2016 eu vi muitas políticas públicas específicas para as mulheres, assistência técnica para mulheres, equipes formadas exclusivamente por mulheres. Antes dos projetos, as mulheres tinham produção, mas todas as políticas públicas para as mulheres vieram pra somar. Hoje não vejo isto, mas vejo que as mulheres terão o desafio de continuar fazendo, mas, sobretudo, percebendo e falando sobre o que nos foi negado”.

Para a agricultora membro do Movimento das Mulheres Trabalhadoras do Nordeste (MMTR) em Pernambuco, Ana Paula, “um divisor de águas foi o protagonismo das mulheres, porque a auto-organização foi e é um instrumento tanto na construção das políticas públicas como também no seu controle. Eu acho que a gente tem conquistado muitas coisas, e desde 2016 perdemos muitos. Mas eu vejo, que nós mulheres somos as primeiras que enfrentamos, pra dizer que temos nossos direitos e que vamos continuar lutando por eles”.

A violência contras as mulheres, em especial, às mulheres negras, transsexuais e lésbicas que ainda são invisibilizadas. “Se as mulheres brancas e cis morrem, as mulheres lésbicas morrem duas vezes por serem mulheres e por serem lésbicas”, salientou Daniela Bento ao lembrar da empatia que as mulheres devem ter respeitando as diferenças e a realidade de cada uma.

Por fim a coordenadora da ASA pelo estado da Paraíba, Glória Batista, ressaltou a importância da participação das mulheres no Encontro. “É com nossa força feminina e feminista que vamos participar do V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, pois sem o saber das mulheres não é possível fazer agroecologia”, disse Batista.

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