“A agroecologia promove uma nova revolução unindo o saber popular e a ciência”
Por Kátia Rejane | Comunicadora Popular do Caatinga e da ASA
Dentro do terreiro foram apresentadas em torno de 30 inovações, das quais 22 são protagonizadas por mulheres, reafirmando o importante papel que as mulheres assumem no protagonismo das iniciativas de convivência com o semiárido.
“Aqui neste terreiro a gente enxerga a maior revolução da história da humanidade que é a domesticação das plantas e animais, feita pela agricultura familiar, mas nos últimos 100 anos a ciência tentou esconder essa revolução. Agora a agroecológica faz uma nova revolução unindo o saber popular a ciência”, afirma Euzébio Cavalcanti, agricultor experimentador da Paraíba.
A diversidade de inovações movimentou e animou o terreiro, com experiências de sementes crioulas, plantas medicinais, beneficiamento de plantas da Caatinga, extração de óleos, quintais produtivos. Algumas dessas experiências foram construídas através da união do saber popular e da ciência, como a caderneta agroecológica, instrumento construído para anotar a produção dos quintais, normalmente de responsabilidade das mulheres. Nem sempre sua produção é reconhecida e a caderneta ajuda a visibilizar e valorizar essa produção. Como conta Maria de Fátima do município de Itapipoca (CE).
“Eu nem imaginava que tirava tanto de meu quintal. Na caderneta agroecológica a gente anota o que comeu, deu e vendeu. Foi aí que descobri que a agroecologia dá certo. Depois desse trabalho com a caderneta, as mulheres de minha comunidade passaram a produzir nos seus quintais e anotar o que produzem, eu convenci pelo exemplo”. Afirma a agricultora
Para Paulo Peterson, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o I terreiro foi uma iniciativa muito acertada e precisa ter continuidade. “A grande novidade do terreiro é dar luz a essas experiencias que nem sempre aparecem, que é vista como pequena, insignificante. Esse terreiro ajuda a gente que é da ciência, pois na ciência se faz salão de inovação, com o objetivo principal de vender, a primeira coisa que se faz é patentear. Aqui a inovação é livre para ser experimentada. E essa inovação feita pela agricultura familiar, mesmo invisível está revolucionando o semiárido. O que a ASA faz no semiárido é revolução. Todas as experiências aqui têm o mesmo princípio, o encontro com a natureza, precisamos de uma ciência que promova isso e essa ciência é a agroecologia. Nosso maior desafio agora é aproximar os terreiros dos congressos” Afirma Peterson.
O Congresso Brasileiro de Agroecologia está previsto para acontecer no mês de novembro, em Sergipe.