Banquete da luta, da fé e da união

Por Miguel Cela

Mamão, banana, tapioca, bolo, queijo… Tudo vindo da agricultura familiar | Foto: Eduardo Queiroz/Agência Eco Nordeste

A chuva no sertão é um momento de celebração. É um momento de renovação, é o momento de produção. Assim, depois de conversar com os profetas da chuva, aos pés do “padim Ciço”, a mesa foi posta e um Banquete Agroecológico tomou conta do espaço do Horto. Mamão, banana, tapioca, bolo, queijo. Tudo vindo direto da agricultura familiar e produzida no assentamento 10 de Abril, no município do Crato, Ceará. O objetivo: mostrar para a cidade que é possível e capaz de alimentar-se a partir da agricultura familiar.

“Realizar o banquete é celebrar a chuva que traz a fartura, a vida nova e os alimentos”, conta Marcos Jacinto, da coordenação executiva do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido e também da coordenação da ASA Brasil pelo estado do Ceará. Ainda segundo Marcos, a conversa com os profetas da chuva e o banquete foram momentos importantes para “trazer essa relação da chuva para a produção do alimento e para a segurança alimentar”.

No entanto, não só das chuvas dependem os agricultores. Para Zé Maria Gomes, assessor técnico da Cáritas Diocesanas de Sobral, o banquete vem para mostrar que “a agricultura familiar é possível e viável nas nossas condições de Semiárido”. E que as tecnologias sociais existentes e implementadas permitiram que, mesmo nestes anos de estiagem, a produção não apenas para o consumo, mas para a comercialização tenha sido possível. “As feiras agroecológicas são um sinal muito forte disso.”

É, também, o que conta dona Ana da Silva, agricultora assentada no Assentamento 10 de Abril, de onde veio os alimentos para a celebração. Ela conta que só compra café e açúcar, que é o que não planta. Mas que alface, alho, cebola, alho poró, carne… tudo sai de seu quintal. E não alimenta só sua família, não. A agricultora aposentada de 66 anos é uma das agricultoras que participa da Feira Agroecológica do Crato, que acontece todas as sextas a partir das 4h10 da manhã na Rua dos Cariris, 61, no Crato.

Dona Ana fala das dificuldades de começar a vida do zero no assentamento, onde “a água era pouca”, há 28 anos e que “hoje nós tem de tudo pra comer. Nós só compra café e açúcar porque a gente não planta, mas o resto das coisas a gente tira da terra”. E conta orgulhosa das hortas e da feira que participa há 15 anos: “A gente não tem freguês, a gente arruma uma família”.

É esse significado especial da grande mesa montada ao lado do palco no Horto de Padre Cícero, que Zé Maria se referiu: “Há um convite pra que a gente possa expressar não só o lado da produção, mas de respeito à vida, respeito ao ambiente. Pra dizer que a gente tem condições de produzir e colocar esse alimento a serviço de outras pessoas”. Ou como Marcos Jacinto afirmou: “A gente quer reforçar cada vez mais a importância da agricultura familiar”.

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