Amor à educação é caminho para a transformação

Vivência da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido muda vida de escola no Araripe de Pernambuco

por Kátia Rejane

A Escola Municipal Josefa Cândida de Jesus, localizada no bairro Wilson Moreira Saraiva,município de Exu, Sertão do Araripe de Pernambuco, era vista com uma escola de grandes desafios para educadores e educadoras, a ponto de alguns profissionais terem resistência para trabalhar na escola. A violência contra os profissionais da educação era muito presente no ambiente escolar, a comunidade não tinha um sentimento de pertença à escola e nem a escola à comunidade, não havia interação.

Em 2018, as coisas começam a mudar com a chegada da professora Vera Lúcia, educadora há 30 anos. Vera havia participado das oficinas de educação contextualizada, quando a escola recebeu o Programa Cisternas nas Escolas, através da ONG CAATINGA, e se apaixonou pela educação contextualizada para a convivência com o Semiárido. Junto com as demais educadoras de Tabocas, resgataram a história do distrito, reinauguraram a feira livre, que era espaço de comercialização antigo, mas que estava desativado. Assim, a professora Vera se tornou uma entusiasta e referência no território do Araripe em educação contextualizada.

 “Para mim, o mais chocante foi o primeiro dia de aula nessa escola, quando pais e mães chegavam para deixar seus filhos e já chegavam brigando. As pessoas não desejavam bom dia umas às outras, e quando alguém dizia bom dia, ninguém respondia, isso me chocou bastante”, conta  Vera, emocionada em lembrar da experiência. 

A professora assumiu a função de coordenadora pedagógica e foi em busca de solução para a situação, buscou psicólogos, conversou com o corpo docente da escola, com a Secretaria Municipal de Educação. Mas o ato mais revolucionário, foi se colocar todos os dias na porta da escola para desejar bom dia a todas pessoas que entravam e oferecer um abraço às que permitiam ser abraçadas. Essa atitude foi modificando a forma como as pessoas da comunidade tratavam a escola.

Dias após o início das aulas, em cada turma as professoras selecionaram estudantes que tinham mais dificuldade na aprendizagem e eram mais “indisciplinados”. Em um horário fora do horário da aula convidaram alunos e alunas e suas famílias para uma atividade na escola, a sala para recebê-los foi ornamentada com objetos do dia a dia daquelas famílias, trazendo elementos que marcam a história da comunidade e do município (maquete de engenho de cana de açúcar, trabalhadores moendo a cana, carroças carregando água). A chegada das pessoas na sala já mostrava que elas se reconheciam naquele ambiente, que fazia parte do dia a dia delas, ou fizeram parte de suas infâncias, e de alguma forma aqueles eram os elementos pedagógicos de suas vidas. 

A primeira atividade proposta pela escola foi que cada adulto da família contasse sua história às crianças, sobre as dificuldades e conquistas. A partir daquele dia tudo começou a mudar, as crianças passaram a produzir, a interagir, a conviver melhor com colegas e educadores e educadoras.

O resgate da cultura foi um ponto fundamental para a transformação. A Secretaria Municipal de Educação pretende adotar a educação contextualizada para convivência com o Semiárido em todo o município de Exu e conta com a colaboração da professora Vera Lúcia, que diz sentir uma enorme vontade de ver esse sonho se tornar realidade. 

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