Captar, armazenar e reaproveitar a água para convivência com o Semiárido
A agricultora Maria Diva e sua família utilizam tecnologias sociais no Semiárido
por Kátia Rejane
A dificuldade de água, em especial para produção de alimentos, sempre foi uma realidade enfrentada pela população do Semiárido. Mas, as tecnologias sociais surgiram como a alternativa para suprir essa necessidade e após os últimos anos de longa estiagem, há a necessidade de um maior número de tecnologias para captar e estocar a pouca água que tem caído, e reaproveitar a água usada se apresenta também como uma possibilidade interessante.
Essa possibilidade tem permitido a família de Maria Diva, que vive no Sítio Boa Fortuna, município de Ouricuri, Sertão do Araripe Pernambucano, ampliar a produção do quintal. A família composta por Maria Diva, o esposo, três filhas mulheres e seis filhos homens divide as atividades entre o roçado, a criação de animais e o quintal produtivo. No roçado, que fica em outro terreno da família, na Serra do Inácio, plantam mandioca, milho, feijão e sorgo. No terreno da casa, criam animais como galinhas, caprinos, ovinos e suínos. E produzem no quintal plantas medicinais, hortaliças e plantas frutíferas.
A família está experimentando o plantio no Sistema Agroflorestal com foco na produção de alimentos para os animais e o sistema de Reaproveitamento de Água Cinza (RAC), cujo objetivo é filtrar a água utilizada para lavar louças, lavar roupas e no banho. Através de um filtro biológico, essa água passa pela filtragem, fica estocada em um tanque, de onde sai para as plantas. Maria Diva conta que sempre sofreu vendo a dificuldade em ter água, mas nunca deixou seu quintal acabar. “A nossa dificuldade é a falta de água. Chegar o tempo de seca e ver as plantas morrendo é muito ruim, mas desde que o sistema foi implantado aqui minhas plantas não passaram mais sede, e acho que vai continuar assim”, conta a agricultora com um sorriso no rosto.
A implantação do sistema integra o projeto Terra de Vidas, executado no território pelo CAATINGA, e realizado em parceria com o Centro Sabiá e apoio da Cáritas Suíça. O que possibilita a família a ampliação da produção de alimentos para consumo e para os animais. “Minha esperança é que a nossa experiência com agrofloresta e reuso de água ajude outras pessoas ficarem mais sensíveis e assim diminuir a quantidade de desmatamento, queimadas e uso de veneno, e para as pessoas que moram na cidade pensem bem antes de desperdiçar a água , que é um bem precioso”, conta Maria Diva.