Educação que aprende com a caatinga e é contextualizada no Semiárido
Vera Lúcia é educadora há mais de 30 anos e atua na Escola Municipal Josefa Cândida de Jesus, em Exu, no Sertão do Araripe. Com muita dedicação e amor ao que faz é também fortalecedora da educação contextualizada. Ela conversou conosco do CAATINGA, em nosso programa de rádio Agricultura Familiar em Debate, do último sábado (25/04). E nós apresentamos a entrevista completa aqui.
Por Kátia Rejane
CAATINGA – Em sua opinião, a educação recebe a atenção que deveria, ocupa o lugar que precisa ocupar na sociedade brasileira?
Vera Lúcia – Podemos perceber que a educação é um processo importante para o desenvolvimento de uma sociedade, tanto construtora como reconstrutora da mesma, onde integra e transforma desigualdade em equidade e igualdade entre seus indivíduos. Por ser completa na formação humana e buscar raízes verdadeiras dentro no contexto social que a envolve ainda é vista em toda categoria e esfera como limitadora e alienadora, posto para que os que se encontram em alto poder não há uma compreensão ou aceitação de sua potencialidade em desenvolver a capacidade intectual da pessoa associando ao ser autônomo crítico, capaz de pensar e agir por si mesmo.
CAATINGA – O mesmo dia que é dedicado à educação é também dedicado à caatinga. Em sua opinião qual a relação da educação com o bioma?
Vera – Essa é uma data que deveria ser pensada e refletida por todas as pessoas, e nós estamos fazendo para refletir e contribuir com a educação. A gente precisa entender que o aluno precisa interagir com o meio em que vive e entender que o meio que o envolve traz grandes recursos dentro de sua aprendizagem. Além de compreender que para ter uma vida saudável e com nutrientes deve relacionar a sustentabilidade a essas percepções de um estilo de vida adequado, observando que o Semiárido e seu bioma caatinga é um ferramenta essencial para que essa cultura alimentar ocorra e que seja eficaz, não só no lugar em que moramos, mas que se estenda a outros lugares e estados do Brasil. Por isso devemos utilizar formas eficazes de combate a sua degradação e nos preocupar e preservar – lá, uma vez que dependemos dos recursos naturais para nossa sobrevivência. Daí a gente pode fazer essa relação com bioma caatinga e o que temos como possibilidade nele e o que tiramos de aprendizagem, como a educação pode levar isso para os seus alunos. Então, nós devemos refletir bem e nada melhor que esse dia 28 em que fazemos referencia a educação e a caatinga.
CAATINGA – Você como educadora, como tem trabalhado a educação contextualizada para convivência com o Semiárido?
Vera – Para trazer uma perspectiva da educação contextualizada, ao bioma caatinga e as contribuições que nós podemos trazer para a educação, eu penso que compreender a educação contextualizada é rever um processo de colonização que remota das vindas antigas não só da coroa portuguesa, mas de outros países europeus que vindos a nosso país. São ações de partilha, de regar plantações, de colher o que se plantou e como já dito da importância e da relação da educação é necessário que o aluno e nós professores vivenciemos esse contexto real, compreendamos o Semiárido brasileiro e seu bioma caatinga e olhar de uma forma diferenciada e diferenciando, um estilo em que a resistência de seu povo é consolidada no bem comum, quebrar o antigo paradigma da pobreza, de uma educação defasada entre outras e perceber que embora que convivamos com seca ou chuva demais, nós aprendemos a conviver com o Semiárido e tirar da Caatinga o que necessitamos para viver. Dentro dessa perspectiva está a educação contextualizada que precisa ser entendida dentro de sala de aula, não podemos fugir de quem nós somos, antes nós precisamos nos identificar com essa alternativa de convivência e de vivência de aprendizagem e construção do conhecimento.
CAATINGA – Como educadora, defensora da educação contextualizada o que te motiva a fazer esse trabalho e o qual o objetivo você gostaria de alcançar?
Vera – Traçar uma trajetória de trabalho e contribuição para com a educação e seus entraves governamentais é uma tarefa árdua, mas alguém um dia me disse que devemos fazer um trabalho de formiguinha se quisermos atingir nosso objetivo. É nisso que eu acredito, cada dia que trabalhamos que mostramos, que levamos reflexões sobre educação contextualizada, é um passo dado, é uma semente plantada. Isso que me propus a fazer. Levar e partilhar saberes com todas as pessoas que fazem parte da educação. Posso dizer que o objetivo estará atingido, quando todas as pessoas olharem a educação contextualizada como alternativa inclusiva de aprendizagem. Isso é o que muitos teóricos já falavam como a forma lúdica de aprender. Eu agradeço a todas as pessoas que contribuem para que esse trabalho aconteça e cresça abrindo portas para que leve reflexões a toda a comunidade escolar e sociedade em geral para que enxerguem na educação contextualizada o leque de possibilidades de aprendizagem.