CAATINGA homenageia Dia da Agroecologia e São Francisco de Assis nas frequências do rádio

Por Helena Dias

No final de semana que reuniu o Dia Nacional da Agroecologia, o centenário de Ana Primavesi e o Dia de São Francisco, o CAATINGA trouxe uma bela homenagem à natureza por meio das frequências do rádio. No programa Agricultura Familiar em Debate, nós celebramos os valores franciscanos que prezam pelo cuidado do meio ambiente, assim como os da agroecologia que visam uma relação de harmonia entre o ser o humano, os recursos naturais e outros seres vivos.

O programa veiculado no último sábado (3), contou com a participação do coordenador do Centro de Apoio e Assessoria à Iniciativas Sociais (CAIS), Adriano Martins. Ele relembrou seus tempos de criança, no Rio Grande do Sul, quando ouvia falar de São Francisco de Assis como aquele “que conseguia conversar com os bichos”. Em sua memória afetiva, Adriano trouxe o santo como uma figura central para o início da sua militância política em defesa dos animais.

“Ao nomear os seres da natureza e reconhecer como irmãs e irmãos, São Francisco se conectou com uma percepção da vida muito próxima dos povos originários do mundo inteiro, que consideram todos nós como parte de uma mesma família. Nós humanos e não humanos. São Francisco de Assis ao chamar a água, a terra, as flores, os frutos, os animais de irmãos e irmãs, reconhece que há uma relação de interdependência entre todos os seres. Nós dependemos uns dos outros para manter o equilíbrio da vida.”.

É também com muito afeto que Antônio Alves, mais conhecido como Seu Antônio do Amaro, fala do Dia de São Francisco, comemorado na data de 4 de outubro. Enquanto os pífanos tocavam ao fundo de sua fala, ele contava como os valores religiosos e humanistas dizem muito sobre a vida no campo.
“Falar do meio ambiente é falar das coisas que pertencem ao interior, aos trabalhadores rurais. Nós como trabalhadores rurais queremos defender nossa pátria. São Francisco de Assis era defensor da natureza, São Sebastião era um soldado guerreiro, como muita gente sabe, e Nossa Senhora dos Remédios é quem cuida dos remédios que a gente adquiri na caatinga, pois a caatinga tem todos os remédios que a gente precisa.”.

Assim como todos os remédios, os alimentos e o bem viver também habitam a caatinga e lá na Chapada do Tamboril a conversa se assemelha às palavras de Seu Antônio Amaro. Kauanny Ketlen, de 9 anos, falou da importância de morar no sítio e compartilhou a experiência de estar em equilíbrio com a natureza. “Eu gosto que só dos animais, eu brinco com eles, converso e cuido. Dou leite para os bezerrinhos, dou milho para as galinhas. Você pode plantar e ter a sua própria plantação. Plantar banana, cocô, macaxeira, laranja, tangerina, pinha e várias outras coisas. Essa é a importância de morar no sítio.”.

Essa forma de ver a relação entre os seres humanos toma forma na reivindicação de direitos da sociedade civil e na atuação de muitas organizações, como é o caso do CAATINGA. Nós estamos na luta pelo direito à água e por formas sustentáveis que garantam recursos hídricos de qualidade para as populações dos territórios onde atuamos. Entre as regiões que mais sofrem com a desertificação no Brasil, está a semiárida. Atualmente, 50% do bioma caatinga se encontra com altos níveis de desertificação.

“O nome já está dizendo. Leva à degradação das terras, das matas, das águas, da biodiversidade. A degradação de toda a vida na região. É quando você vê uma área de terra que não está mais nascendo direito, quando você vê as águas secando, quando você vê desaparecendo plantas e animais que existiam. Principalmente, a diminuição da capacidade de produção da terra, isso é um processo de desertificação. Não significa que diretamente vai se transformar em um deserto, mas mostra que está em um processo de diminuição da capacidade da vida se reproduzir naquela região e, portanto, fica muito difícil também das pessoas viverem.”, alerta o coordenador do CAATINGA, Paulo Pedro.

A ação humana é a principal causa da desertificação. Por exemplo, quando vegetações são destruídas e queimadas, quando se pratica a monocultura e há um excesso de animais de grande porte pastando na região, as probabilidades de que uma ela comece a ficar desertificada é grande. Isso impacta diretamente a vida das pessoas. Por isso, a agroecologia é tão necessária para substituirmos práticas ultrapassadas como a monocultura e espaços que propõem outros modelos ecológicas e sustentáveis são tão importantes.

É o caso do projeto Terra de Vidas, feito em parceria do CAATINGA e o Centro Sabiá com apoio da Cáritas Alemã. Estamos promovendo o reuso de águas cinzas com a construção de tecnologias em algumas comunidades no nosso território de atuação. A moradora da comunidade de Nova Conquista, em Ouricuri, Regilene Macedo, fala sobre as suas expectativas como beneficiária do projeto.

“É uma tecnologia que veio só nos ajudar, porque é um modo da gente utilizar a água que a gente já usa na lavagem de roupa e no banho. Veio para a gente reutilizar essa água jogando nas plantas e nas fruteiras. Eu espero ter certo a implantação desse projeto e que venham mais projetos como esse para ajudar a nossa renda nas comunidades, porque as comunidades só têm a ganhar.”.

Falando de água perto do dia de São Francisco de Assis, não dava para deixar de lembrar do Velho Chico. O integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Julianeli Tolentino, explicou a reivindicação de direitos a nível dessa articulação que defende a bacia hidrográfica que, praticamente, atravessa metade do país.

“O comitê é um órgão colegiado, integrado pelo poder público, a sociedade civil e por empresas usuárias de água que tem por finalidade a gestão descentralizada dos recursos hídricos em toda a bacia. Atua sempre na perspectiva de proteger os seus mananciais e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento de toda essa região.”.

Ele também destacou a importância do Rio São Francisco para o semiárido. “Não é apenas pelo volume de água que é transportado por toda região semiárida, mas também pelo potencial hídrico que é passível de aproveitamento e também de sua contribuição histórica e econômica.”.

Neste programa Agricultura Familiar em Debate, você pode encontrar o primeiro episódio da Zap Novela da campanha Não Troque Seu Voto, da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Também a recitação do poema Lágrimas do Velho Chico, do poeta alagoano Túlio dos Anjos, na voz de Ariagildo Vieira.

Escute o nosso programa de rádio veiculado no dia 3 de outubro de 2020: https://bit.ly/programacaatinga03102020

O programa Agricultura Familiar em Debate é transmitido todos os sábados, às 7h, na na Rádio Voluntários da Pátria FM 100.9 Ouricuri/PE. Você pode ouvir no mesmo horário pela internet: https://www.radios.com.br/play/

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