25 de Novembro: Mulheres negras em luta no combate à violência

Marcando as datas 20 e 25 de novembro, Dia da Consciência Negra e Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, respectivamente, o CAATINGA conversou com organizações ligadas ao tema e várias companheiras mulheres negras. Durante o programa Agricultura Familiar em Debate do último final de semana, a conversa contextualizou como a violência atinge a vida das mulheres negras e quais medidas são reivindicadas para o enfrentamento à questão.

A vice-presidenta e cofundadora do Instituto Maria da Penha, Regina Célia, afirma que nestas datas é ainda mais necessário questionar “o que temos feito para diminuir o número terrível de mulheres negras que são assassinadas” no país. Ela direciona a pergunta para os governos a nível federal, estadual e municipal.

“São duas milhões e 400 mil mulheres que sofrem agressões de pessoas conhecidas no intervalo de um ano. Destas, 950 mil são brancas e 1,5 milhão são negras. Outras 22 mil são mulheres indígenas ou orientais. Isso significa dizer que mulheres negras têm três vezes mais chances de sofrerem feminicídio no Brasil quando comparadas com as mulheres brancas. Desde 2015, no Mapa da Violência, foi divulgado que durante o período de 2003 e 2013 o número de homicídios contra as mulheres negras saltou de 1.864 para 2.875 casos. Em contraposição, houve o recuo de 9,8% nos crimes envolvendo mulheres brancas. A maioria das vítimas são mulheres jovens, que tem entre 18 e 30 anos, negras, pobres e periféricas”.

A secretária da Mulher da cidade de Garanhuns e militante pelos Direitos Humanos, Walkiria Alves, alerta sobre a importância de observar o recorte racial para a criação de propostas de combate à violência que levem em conta a realidade das mulheres negras, que são “as que mais sofrem e mais morrem”. Ela explica que em termos de políticas públicas já aconteceram alguns avanços frutos da luta das mulheres, mas que ainda é pouco. Atualmente, o estado de Pernambuco tem organismos de políticas públicas de combate à violência contra a mulher em todas as cidades, seja uma secretaria, coordenadoria ou uma secretaria-executiva.

“Mulher preta, você não está só! O que eu queria conversar hoje com todas as mulheres, em especial com as mulheres pretas, é que busquem ajuda, denunciem e não se calem. A gente sabe que é muito difícil sair de um relacionamento abusivo, ainda mais quando há tantos atravessamentos. Às vezes, a mulher não está mais no mercado de trabalho. Às vezes a mulher sofre ameaça de morte todos os dias ou não tem creche para deixar seus filhos e nem apoio da família. Mas é importante que a gente incentive a denúncia porque o silenciamento só contribui para a perpetuação dessa situação de violência”.
 
Em um ano de Eleições Municipais, a ativista dos Direitos Humanos e integrante do Fórum das Juventudes de Pernambuco (Fojupe), Jéssica Vanessa, conta que apesar do momento difícil que o país enfrenta, houve ganhos com as eleições de mulheres negras para os legislativos das cidades. Ela diz que o esforço de mostrar que a população negra é de “extrema importância nas lutas que carregam o braço hierárquico do Brasil” é constante.

“Mostramos que a população negra tem um projeto para o Brasil, que a gente já botou isso na mesa quando fizemos a Marcha das Mulheres Negras em 2015, lá em Brasília. Mostramos quando a gente se reúne e faz um Fórum de Mulheres Negras também. Todas mulheres são capazes de construir e mover montanhas. Quando a gente consegue se organizar, a gente consegue destruir essas estruturas hierárquicas que existem nesses espaços de poder”.

Para ouvir essas e outras falas na íntegra, acesse o Programa Agricultura Familiar em Debate veiculado nos dias 21 e 22 de novembro: https://bit.ly/progcaatinga21112020

Foto: Roque de Sá/Agência Senado

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