CAATINGA coordena projeto internacional de pesquisa agroecológica 

Após três anos de trabalho, o AVACLIM no Brasil vai apresentar seus resultados em evento neste mês de setembro, em Juazeiro (BA)

Por Ana Roberta Amorim (CAATINGA)

Entender os benefícios e impactos positivos da agroecologia nas zonas áridas e semiáridas de várias partes do mundo é um dos principais objetivos do AVACLIM. Ao estudar experiências que acontecem nessas áreas, o projeto busca sistematizar dados e informações sobre práticas agroecológicas que podem ser aplicadas em outros territórios. 

Com coordenação geral da CARI, associação francesa que promove um modelo agrícola sustentável e realiza trabalhos contra a desertificação há mais de 20 anos, as atividades do projeto iniciaram no ano de 2020 em sete países: Burkina Faso, Senegal, Marrocos, Etiópia, África do Sul, Índia e Brasil. Em todos os territórios, há a presença de ONGs e instituições que sistematizam as experiências de cada país. Por aqui, no Brasil, o CAATINGA assumiu a coordenação do projeto.

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Programa de Aplicação de Tecnologias Apropriadas (PATAC) e AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e à Trabalhadora (CETRA), Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), além do Centro Sabiá, são as instituições e organizações sociais que estão ao lado do CAATINGA no projeto. 

Para ser colocado em prática, o projeto AVACLIM tem quatro importantes componentes que, juntos, demonstram a amplitude dos estudos realizados. O primeiro diz respeito à sistematização e troca das experiências vistas em campo com os agricultores e as agricultoras em cada um dos países participantes. “Durante essa primeira fase, foram realizados dois seminários, um sobre feminismo e agroecologia, e o outro sobre convivência com o Semiárido e as tecnologias sociais. Chamamos esse componente de Comunidade de Prática porque são, de fato, práticas junto às famílias agricultoras, as ONGs parceiras e os parceiros científicos”, explica Paulo Pedro de Carvalho, coordenador de Mobilização de Recursos do CAATINGA. 

O segundo componente é o científico. Nele, há um aprofundamento dos estudos e análises das experiências agroecológicas. Aqui, é aplicada a metodologia LUME. Em resumo, essa metodologia, criada pela AS-PTA, atua na efetivação de teorias críticas sobre agroecologia de forma prática na vida de agricultores e agricultoras. É uma mescla entre a agricultura e política de forma que tecnologias e práticas inovadoras andem lado a lado com a evidência de pautas como o protagonismo feminino, a atuação da juventude e a autonomia de agricultores e agricultoras. 

“Como o nome sugere, é dar luz, visibilizar aquilo que está invisibilizado. São abordados assuntos como economia dos agrocossistemas, economia feminista, economia da agricultura familiar do autoconsumo. O LUME traz dados e gráficos para fazermos todas essas análises e colocarmos isso na comunicação com a sociedade. A ideia do LUME é estudar e debater os princípios”, pontua Paulo Pedro. 

Os terceiro e quarto componentes conversam entre si. A incidência política e a comunicação têm, primeiro, o objetivo de dialogar com os dados coletados em campo para os diversos atores – ocupantes de cargos políticos, redes, consórcios e outros. Enquanto a comunicação vem para levar essas informações à sociedade civil, por diferentes meios, como redes sociais, rádios e eventos presenciais. 

O CAATINGA produziu dois produtos de comunicação a partir do projeto: um vídeo que ainda está sendo finalizado sobre experiências agroecológicas no semiárido de Pernambuco e Bahia, e o livro digital Agroecologia Transformando Vidas: experiências de convivência com o semiárido brasileiro, que já está disponível aqui no nosso site. Você pode acessá-lo clicando aqui!

Em campo, o AVACLIM funcionou da seguinte forma: dez experiências foram sistematizadas inicialmente para receberem a metodologia LUME. Daí, cinco tiveram acesso à parte do método e, finalmente, duas puderam passar por todo o processo de maneira aprofundada. Ao final, a ECOARARIPE, associação que trabalha com certificação orgânica, e o Recaatingamento, prática de recuperação do bioma Caatinga, foram as experiências escolhidas para terem acesso à aplicação da metodologia LUME de forma completa. 

Resultados positivos

Apesar de o projeto AVACLIM ainda não ter sido concluído – o final está previsto para dezembro deste ano – já é possível ver informações e resultados muito positivos coletados nos últimos três anos de atuação. 

“Tivemos um bom resultado. O CARI, a instituição proponente e coordenadora geral, avalia de forma muito positiva as ações do Brasil. Acreditamos que o AVACLIM trouxe várias oportunidades, até mesmo de ter encontros com os outros países participantes por meio das oficinas”, explica Paulo. No Brasil, cerca de 100 famílias agricultoras foram impactadas diretamente pelo projeto nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Bahia.

Agora, o extenso relatório com os resultados e dados coletados nos últimos três anos pelo CAATINGA e seus parceiros será apresentado em um evento que acontece em Juazeiro do Norte, Bahia, nos dias 15 e 16 de setembro.

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